30 de jun. de 2009

Perfil Lost: Jack Shephard

por Karen Aguiar Belintani

Jack Shephard é um cara complexo. O bem sucedido cirurgião de coluna, tão centrado, comprometido e cético, tinha bases frágeis para suas certezas. E a transformação do Homem da Ciência que bateu de frente com a fé de Locke durante toda a série, em alguém vulnerável o suficiente para jogar fora suas convicções e acreditar poder anular tudo o que ocorreu desde a queda do avião foi o bastante para humanizar o personagem.

Jack tem problemas com o pai. Como a maioria dos personagens. Mas entre todos, seu conflito é o mais difícil de ser entendido, o mais sutil. Sob uma ótica superficial, é complicado entender seu drama. Jack não teve um pai tão repugnante como Kate e Locke. Não teve uma vida difícil como James, não foi abandonado como Hurley e Claire.
Jack se cobra perfeição - talvez por sentir-se na obrigação de corresponder às oportunidades que teve na vida. Com uma mistura de amor e ódio mal identificados e resolvidos, passou a vida tentando impressionar o pai. Sem perceber que não precisava de tanto esforço, transformou o amor que tinha por Christian em conflito e competição. Freud explica.
E como na vida, relacionamentos problemáticos com o pai (ou mãe) refletem-se em todos os outros aspectos de sua trajetória. Comprometido, Jack não sabe desistir. O que pareceu por tanto tempo teimosia e arrogância é fruto de uma personalidade frágil e desesperada para consertar tudo.
Jack teve problemas no relacionamento com mulheres, o que é nítido na dificuldade de aproximação com Kate. Com a própria esposa, a paciente em quem reverteu uma paralisia irreversível - resultado que deve ter assustado bastante o cético e racional médico - ele desenvolveu uma relação que desde o início não tinha chance de ser saudável. Parecia mais uma forma de se apegar ao que ele nunca entendeu.
Ao lado de Sarah, Jack tenta desesperadamente ter uma vida a dois. Porém, nunca conseguiu se entregar emocionalmente. Guardou seus sentimentos, suas dúvidas e inquietações, se afastando de Sarah. E o mais triste: se submeteu ao papel de marido traído, tentando a todo custo manter um casamento falido.
O líder
Como todos os personagens, Jack chega à Ilha perdido em propósitos. Trazendo o corpo do pai, morto após uma séria desavença, a culpa o impele a ser líder. Mas não foi só a culpa. Jack assume na Ilha o papel para o qual se preparou durante toda a vida.
Não mais a sombra do pai, se sente na obrigação de cumprir as obrigações para as quais se sentira inevitavelmente ligado. Talvez sua desordem emocional seja uma artimanha de Jacob. Talvez seja apenas fruto da conturbada relação paterna.
É difícil não se irritar com Jack durante vários momentos. A intempestiva atitude de superioridade em relação a Locke, a teimosia, a pretensão de onipotência são difíceis de serem entendidas sem que se considere todo o seu passado emocional. Precisamos nos colocar no lugar de Jack. É preciso contextualizar o doutor...
Jack foi herói, não se nega. Assumiu a responsabilidade de liderança, tomou decisões, mesmo que erradas. Quando ninguém mais queria, ele se entregou ao papel de fazer o que era preciso em seu conceito.
Mesmo que sua imagem tenha se desgastado com o tempo entre os sobreviventes, ele teve a firmeza que sempre faltou a Locke. Não se preocupou em ser simpático. Preferiu fazer o que ele achava ser o certo.
Escolhas erradas ou não - só no fim saberemos – Jack conseguiu o objetivo que o transformara no disco arranhado: saiu da Ilha.
A felicidade durou pouco. Como fizera com Sarah, afastou Kate. Como o pai, se tornou um viciado.
Finalmente entende que tem que voltar. E mais uma vez o arrependimento o toma. Só que desta vez o sentimento não está mais enrustido. Jack chegou ao fundo do poço. Mas saiu de lá e foi a pessoa decisiva na volta dos Six para a Ilha.
Se transformando no Homem de Fé, ele se humanizou - não pela questão de ter Fé, não é esta a referência, mas pelo fato de rever conceitos e se desprender do passado. O propósito desta volta não parece ainda não muito claro. Se é realmente refazer a rota e impedir a queda, não sei. Mas não duvido mais que Jack tenha realmente um firme e fundamental propósito em estar onde está quando deixamos a Ilha – no fim da quinta temporada.
E tenho certeza de que no derradeiro suspiro de Lost, teremos Jack Shephard a embalar a despedida desta emblemática e marcante série.
  • Obs – É importante ressaltar a ótima atuação de Matthew Fox. Não tão badalado como Terry O´Quinn e Michael Emerson, Fox dá o tom exato ao personagem. Jack não seria Jack sem ele.

Palavra do Paulo
Jack não é um líder, não queria sê-lo, mas as circunstâncias o levaram a assumir esse papel dentre os sobreviventes. Mas, de fato, ele nunca conseguiu ser o líder que todos esperavam, e sua insegurança sempre mostrou que ele é nada além de mais um ser humano, cheio de defeitos. Um homem que sequer tinha certezas sobre sua vida e que não estava pronto para assumir as verdades de um grupo. Será que ao assumir a missão do destino, ele pode, enfim, ser o protagonista de sua própria história?

Este post é o primeiro da parceria com o Paulo Montanaro do blog Pensando Imagem e Som. A ideia é trazer uma série de posts especiais confrontando a visão dos dois blogueiros
sobre personagens - e mais tarde, quem sabe - mistérios e mitos da Ilha.


Aqui review do primeiro episódio centrado do Doc, White Rabbit, na visão do Leco, do ótimo Teorias Lost.

6 comentários:

Equipe ToonSeries disse...

Vocês estão detonando!!!
Primeiro Locke e agora Jack!!!
Muito bom!!!

Jack é de longe o personagem com quem mais me identifico em Lost, a eterna vontade dele de querer consertar o "inconsertável", mesmo fazendo com que algumas pessoas o odeiem por isso.
Nessa última temporada vimos um Jack diferente do que estávamos acostumados,com um jeitão um pouco mais "Sawyer" de ser. Mas apesar de seu motivo para soltar a bomba e alterar o futuro ser um pouco egoísta, ele manteve seu caráter de bom moço até mesmo durante a luta com Sawyer, no momento em que foi lhe oferecer a mão para levantar seu oponente tomou um golpe baixo do sulista. Jack rules!!!

We have to go back!!!

Estou aguardando o perfil do Des!!!

Abraços

Ricardo Braga
Equipe ToonSeries

Leco Leite disse...

Bacana a idéia!! Vou acompanhar...

Ka, vou tentar melhorar a imagem que te mandei q vc colocou no topo do blog, ok!?

Deixar mais centralizada...

Bjo!!

Paulo Montanaro disse...

Oi, Ka. Tudo bom?

Vamos que vamos, hein! Todo mundo está nos apoiando muito nessa parceria! hehehe

Bom... aproveitando, tem um selo de presente pra vc lá no Pensando Imagem e Som. Dá uma olhadinha lá, tá?

Há braços
Paulo

altieres bruno machado junior disse...

Olá Ka

Vi também o post do paulo e aqui reitero as minhas palavras de lá. Para mim o Dr. Shephard ou simplismente Jack, como todos o chamam na ilha, é o melhor personagem da série, com muitos mistérios ainda para serem revelados a seu respeito.
PS: deixei alguns selos a todos os blogs que eu acompanho.

Bjos e até mais.

KA disse...

Obrigada, amigos!
Vamos trazer todos os persongens da nossa querida série!
Bjs

Kaká disse...

Excelente análise do Dr. Jack!

Eu confesso que ele me irrita muito, chato demais, mas Lost não seria nada sem ele. Eu gosto o Dr. Jack perturbado, desesperado, sem armadura, do final da 3ª temporada. We have to go baaaack! [momento mulherzinha: on] Ele é lindo. [momento mulherzinha: off].

Mais e mais

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